Escreve!

Escreve ai o que sinto

São dores como as de parto

Mesmo não sendo eu mulher

 Meu estado letárgico

É fruto do absinto

Veja como quiser

Insisto

Escreve ai o que vejo

Vultos na placidez

Mesmo estando sóbrio

Faz-me sorumbático

Como lampejo

E torna notório

O andejo

Não pares, mas escreves!

Escreve nessas folhas a loucura

Escreve minha insensatez

Escreve a amargura

Escreve também a lucidez

Pois nem sempre sou fantasia

Nem tão pouco só real

Escreve para que leiam

Para que sejam

Escreve para que se percam

Mas que retornem

Escreve nas paredes

Escreve nas arvores

Deixe rastros, migalhas de pão

Alimente os pássaros

Tão aprisionados nessa gaiola

Pois eles já não cantam

Nem mesmo a infelicidade

Escreve a maldade

Que rodeia o caminho

Lembres que flores têm espinhos

E a vida não para

Escreve ai o que digo

Palavras soltas sem sentido

Palavras loucas sem amigos

Alguma coisa qualquer

Preenche essa lacuna

Faz como quiser

Só não pare de escrever

Luiz Cabal