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domingo, 5 de dezembro de 2010

Meu Só


(texto da minha amiga)


     Luto incessantemente contra uma simples ação, um pequeno, natural e necessário movimento: fechar os olhos. Algo em mim clama por isso, parte de mim tenta reter. Cara ou coroa? A minha consciência é clara, é plena, sabe que é melhor evitar. É perigoso! Por vezes, ela vence... Porém, o muito desejar, o sonhar que divaga adormecido, mas que pulsa forte, dilacerante, dribla a minha razão e ganha a batalha. Trapaça! Sou vencida, contudo, acho o sabor agradável, doce. É sublime. Num canto perdido e obscuro por dentro, torcia por isso: o instante da entrega. Não posso, não quero impedir... Fechar os olhos, enfim. O passaporte para um universo novo, paralelo, composto por hologramas mentirosos e flutuantes, virtuais. Imaginação! Criação! Viagem?! Piração? Devaneios...
 
     Estou em um mundo que é meu, e meu só. Com a minha assinatura, única, somente eu governo. Lá sou presidente, dirigente, comandante, chefe, líder, rainha, autora, diretora, dona... Da casa, dona de si, de mim. Eu controlo, delego, manipulo... Não pode ser bom. Como saber o melhor a fazer? A luz-alerta pisca, pisca. Ofusca, até. Sinaliza: risco de frustração! Ignoro. Cerro mais minhas pálpebras, me lanço mais, sem paraquedas. Corro, o cinto do bom senso quebrado. Insensata! Imprudente! Suicida? As imagens configuram-se nitidamente. Cada pixel, cada traço... Os borrões ganham cores, tons de um arco-íris pálido. Eu me mando, escrevo e reescrevo, me conduzo, me destruo. Planejo, arquiteto espaços, idealizo cada caráter, um a um. Executo metas tortuosas, vivo amores, suprimo dores. Lágrimas, só de emoção. A campainha toca, grita, tine sem parar nos meus ouvidos lacrados: nível alto de ilusão! Volta! É irreal, surreal, abstrato. O terreno é fértil ao pensamento, mas arenoso, instável. Tudo pode desabar. Falso! E eu continuo a caminhada entusiasmada, injeções de adrenalina como combustível. Solitária. Usufruo um tempo fugidio, que se perde nas asas do vai-não-torna.

     Construo personagens, produzo as falas certas. Entrelaço destinos, desvio rumos, invento gestos. Interfiro nas cenas desordenadas. Edito o espetáculo de uma vida vã. Mundo perfeito, sem efeito. Medo não tem, sofrimento, só o que convém. Sorrisos lançados sem retorno, contato. Os raios da claridade-realidade inundam e ferem minha visão. São densos, intensos. Uma voz ecoa, ouço sons que fazem doer: desperta! Descubro: não é vida. É ficção sem ação, sem compasso, sem rima, sem fim. Desgovernada, descontrolada, desorientada. Mal feita, por mim. Só por mim.

Marcella Cobian.    
   

3 comentários:

  1. Essa menina tem um dom Inexplorado, poetisa nata!

    Diz qu não escreve, imagina se o fizesse ..rsrs.

    abraços menina...

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  2. Oi!!! Demorei, mas consegui escrever...kkk
    Bom, tenho que agradecer novamente pelo prestígio e pela gentiliza né??? kkk Mas ñ pode dar muito crédito pra um texto feito com 39 graus de febre... kkkkk E acho q só ficando doente novamente pra fazer outro...kkk Bj!!

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  3. viu só ... como não escreve?
    e se a poesia faz parte de um mundo "só"
    os 39 graus de febre só recriaram o que
    corre na veia dos cobian . parabéns pela construção do texto onde só você lidera,manipula,
    delega e reina. abraços!!
    por : lucas

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